Meu pai estava debilitado, havia saído há poucos dias do hospital. Um dia me pediu para explicar sobre a Conect-Ação. Sua atitude de cuidado e atenção não me surpreendeu, mas o fato de estar a poucos meses dos 90 anos e ter uma imensa dificuldade em lidar com os smartphones me fez admirá-lo mais ainda.
Comecei a contextualizar minha trajetória no mundo digital. Contei de como me senti em 2014 quando começaram a chegar os primeiros casos no consultório relacionados com problemas de relacionamento na internet. A sensação de que estava se aproximando um tsunami e precisava me preparar, mas não sabia por onde começar.
“De repente”, surgiu na minha timeline do Facebook o I Seminário sobre Educação Digital da OAB/SP. Na época não tinha conhecimento sobre os algoritmos, só sabia que o que aparecia na timeline era direcionado. Nesse evento foi lançado o Guia do Professor sobre prevenção ao Bullying, que faz parte do Programa de Prevenção ao (Cyber)Bullying. No evento conheci a Safernet e o NIC.br além de vários profissionais que me inspiram até hoje e já vinham com uma trajetória de quase dez anos no combate à pornografia infantil
na Internet brasileira.
Nos anos seguintes, voltei a São Paulo e fui ao Rio de Janeiro, aprimorar meus conhecimentos sobre as novidades do mundo digital na busca de entender e ajudar cada vez mais meus clientes. Sempre participando do Congresso Brain e dos Congresso da Wainer, onde me especializei em Terapia Cognitivo Comportamental e fiz a Formação em Terapia do Esquema.
Na busca me aperfeiçoar, na ânsia por me desenvolver, me inscrevi por engano num evento na ESPM POA sobre Marketing Empresarial, estava em busca do marketing pessoal. Nesse evento aprendi como é estudado e feito as etapas do processo de desenvolver um produto ou até mesmo transformá-lo em vários, de acordo com a necessidade do mercado. Aprendi também como um produto com grande potencial de venda pode melhorar se nos adaptarmos as diversas linguagens do consumidor final.
Esses novos aprendizados me levaram a pensar cada vez mais no Ser Humano, em especial, nos que eu atendia no consultório. Já havia usado meu conhecimento da Faculdade de Matemática para explicar aos meus clientes que estar em equilíbrio é vivermos em movimento no intervalo saudável e como ocorre se cairmos na falta ou no excesso. Com os novos conhecimentos, busquei aprender cada vez mais sobre outras áreas sempre com o objetivo de ajudar as pessoas.
Em 2018, ao participar do 3º Workshop “Impactos da Exposição de Crianças e Adolescentes na Internet” fui convidada para assistir ,no dia seguinte, ao 10º Seminário de Proteção à Privacidade e aos Dados Pessoais onde ouvi falar pela primeira vez sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Aprendi o quanto furar a bolha do algoritmo, sempre que possível, é importante. A importância de proteger dados sensíveis, principalmente de crianças e adolescentes é fundamental. O resultado positivo ou negativo que os dados podem fazer vai depender de que conexões estão sendo feitas e de quem obtém os dados.
Fiquei impressionada ao voltar para Porto Alegre e não encontrar ninguém do mundo jurídico que soubesse do assunto para formarmos uma parceria. Havia pensado que poderiam falar sobre as implicações jurídicas e eu falaria sobre os ricos online e as implicações na saúde mental como se prevenir, construir rede de apoio, desenvolver o autoconhecimento e as habilidades socioemocionais.
No fim de 2020, resolvi começar a tirar meu sonho do papel. Idealizei a Conect-Ação. CONECT vem de conectividade, um conceito da física, onde posso ME conectar, ESTAR conectado e SER conectável. AÇÃO vem da minha indignação por ver pouca ação ou nenhuma da minha parte e de todo o sistema: Governo, instituições publicas e privada, pais e professores, sociedade como um todo, no meu Estado, para se permitir entender e se abrir para juntos buscarmos soluções para minimizar os danos online e potencializarmos os seus benefícios.
Na construção do Projeto de Marca, me dei conta que o lema da Conect-Ação é: A EVOLUÇÃO ESTÁ NAS CONEXÕES HUMANAS E NÃO HUMANAS. Essa frase gerou certo desconforto em muitas pessoas, mas não foi o suficiente para me fazer abandoná-la. Considero Não-Humanos a natureza, os animais, os robôs, os vírus, fungos e tudo o que não podemos chamar de humanos. Rapidamente surgiu os assistentes virtuais, a Inteligência Artificial Generativa (IAG), os chatbots e seus amigos, que também chamamos de Personagens de IA para fazer parte desse time.
O desenvolvimento exponencial da tecnologia e nossa falta de habilidade de trabalharmos em equipe de grande diversidade e de entendermos o mundo que está em intensa e rápida transformação afetou de forma intensa nossas relações humanas, nossa privacidade e nossa humanidade. Onde poucos resolvem desenvolver produtos para, segundo eles, “resolverem os problemas humanos”, sem se preocupar com ética, segurança, confiança, transparência e as leis de proteção de dados (LGPD). Tópicos tão importantes como esses deixados em segundo plano podem levar produtos digitais gerarem danos muito altos a humanidade como a perda de vidas e problemas de saúde mental. Ainda mais quando se trata de crianças e adolescentes.
Está mais do que na hora de nos interessarmos e buscarmos entender os benefícios e as consequências geradas pela tecnologia. Um produto é colocado no mercado após alguns testes, mas somente será aperfeiçoado se as pessoas o usarem, é justamente sobre esse momento que precisamos conversar.
Qual é o custo-benefício para a vida humana e o Planeta? Como podemos juntos minimizar danos e aproveitarmos benefícios. Para problemas complexos, dinâmicos que mudam rapidamente e tem alcances imediatos precisamos de conhecimento e parceria público e privada de indivíduos, comunidades, governo e instituições. Meu pai deu o primeiro passo se interessando pelo assunto. Vamos nessa?